fim

É do fim que se começa. Então, viajante, saímos agora do fim. Da pedra. Da vida de pedra. Estamos renascendo agora neste diário novo. Você e eu, viajante. E se estamos começando esta viagem agora, lembre-se: é importante manter-se vivo. Mesmo que como uma pedra. Vamos, pegue suas coisas.

28 maio 2007

morte

quantas vezes eu morri

e quantas vezes eu pensei que tinha nascido...

que pensamento bobo de fantasma!

22 maio 2007

vôo

- Voe!


Assim me despedi do meu pai quando entrou na sala de cirurgia hoje. E descobrir que ele podia voar me fez conhecer outra pessoa e entender o quão de Fernão somos.


Maridéa Capelo Gaivota. Tão presa em si e sonhando tão longe. Minha madrinha que morreu em seu terceiro câncer queria tanto voar. Tanto, tanto!


Na sua casa, em sua cama, em seus livros....penso agora....quantos vôos criou em seu sorriso de bondade e iluminação... Minha madrinha voava por nós aqui....voava em nós mas não conseguiu voar sozinha.


- Voe, Gigante!


Aquela foto.....aquela foto.....que minha madrinha dedéa deixou....mostrava meu pai voando adolescente em dunas de areia....Murilo voando....meu pai voando....meu pai voando!


E quanta surpresa em ver seu vôo. Que tinha asas tão grandes que nunca imaginei que tivesse...que, agora sim, tudo fazia sentido: quando olhava para o céu e via um pássaro e queria sair numa grande jornada. Como Kino.


Meu pai voando! No mais alto dos céus....eu posso voar!

guia

para ser de todos não sou de mim

se querem caminhos perfeitos
não posso criá-los
todos caminhos são tortos!
basta olhar para trás.

olhos

em seus ojos de Chascona
vi alguém
que não sou

em nosso barco de virtude
rebentou-se um amor
que não temos a mais

não vejo barcos nem mar
não vejo seus olhos!
sigo no escuro, minha vela constante
ou fecho-me num relâmpago de ser
luz de segundo
você infinita.

reversi

jogo de nada
cores de fala
tempo de ser
beijo de silêncio
mundo de dois
mundo de dois
mundo de dois
arrume o tabuleiro
próxima rodada

17 maio 2007

simples

amar o complexo
se o simples é ninguém mais

amar o horizonte
quando os olhos pouco enxergam por dentro

complexo como amar o perto

simples como amar o longe